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Foto do escritorLeandro Vilaça

A sabedoria herdada das ervas sagradas




Desde pequenininha, cresci numa casa rodeada de sabedoria e misticismos. O varal onde secavam as roupas também era utilizado para secar as ervas que minha bisavó usava na preparação de remédios, elixires, garrafadas e conservas. Às vezes, ao chegar em sua casa, o aroma de rosas, laranja e cravo impregnava o ambiente, proporcionando-me aconchego e paz. Mesmo quando criança, eu já sabia que daquela mistura surgiria algum "remedinho" para alguém...


No meio das ervas e da sua sabedoria ancestral, eu crescia e me sentia muito feliz. Sentia-me tão importante quando você permitia que eu ajudasse a colher as ervas, cortar, colocar para secar, ferver e misturar. Em meio a esse processo, com muito carinho e paciência, você explicava todas as razões por trás das infinitas perguntas que eu fazia sobre o que estávamos preparando.


Lembro-me de você dizendo que aprendeu tudo com as antigas vovós e ao longo do tempo, e que tudo o que fazíamos ali sempre dependia de termos muita fé... A fé sempre foi sua maior arma, e era lindo ver você usá-la!

Quando eu me sentia triste ou com medo, corria até você e pedia: "_Bisa, por favor, me benze?" E com um sorriso largo, você acenava, dizendo sim, e me mandava colher três folhinhas de Guiné que ficavam plantadas embaixo da sua roseira predileta. Eu corria até você com o peito cheio de alegria, e você me benzida com sua fé e seu amor incondicional...


No dia em que você desencarnou desse mundo, foi tão triste e lindo que os céus choraram o dia todo. Você deixou para trás uma garotinha com sede de conhecimento por aquilo que ela cresceu amando: a magia das ervas sagradas. Conforme fui crescendo, sempre quis saber tudo sobre a cura, magia e proteção que elas poderiam proporcionar a mim e às pessoas que amo, assim como você fazia...


Depois de uma longa caminhada estudando sozinha tudo o que eu podia, me encontrei, Bisa. Hoje, sou erveira da casa de axé da qual sou filha, filha do grande caçador de uma flecha só. Agora, entendo um pouco mais sobre tudo aquilo que você me ensinava. Meu pai de santo sempre diz: "Não há umbanda sem ervas." E se hoje eu estudo e me dedico, é para honrar a responsabilidade do meu cargo, mas também para honrar nossas memórias.


Saiba que, no que depender de mim, a sua sabedoria nunca será esquecida, e eu a passarei adiante, assim como você fez comigo. De onde estiver, sei que ainda reza por mim. Obrigada por tudo. Te amo para sempre...


Mariana Farias

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